A “guerra” entre a Ambipar e o seu ex-CFO, João Daniel Piran de Arruda, escalou. A empresa protocolou na terça-feira, 14 de outubro, um pedido de instauração de inquérito policial em São Paulo contra Arruda, conforme antecipado pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, e confirmado pelo NeoFeed com fontes próximas à empresa.
O inquérito, que corre sob sigilo, pede a apuração de indícios de prática dos crimes de falsidade ideológica, estelionato, fraude e abuso na administração eventualmente praticados pelo ex-CFO, de acordo com as fontes.
O caso está relacionado ao aditivo firmado com o Deutsche Bank, mecanismo que a Ambipar considera o estopim para a crise que vive, culpando Arruda pela situação.
A Ambipar passou a apontar Arruda como responsável pelo “desastroso aditivo” em esclarecimentos apresentados à Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), em outubro, no processo em que busca manter a tutela cautelar contestada por bancos credores. No pedido de tutela antecipada, não havia menção a Arruda.
Os advogados responsáveis pela tutela cautelar contra os credores afirmam que Arruda teria migrado contratos de swap do Bank of America (BofA) para o Deutsche Bank e negociado o aditivo com o banco alemão “sem o prévio conhecimento – e menos ainda autorização – do conselho de administração”.
Documentos, porém, apontavam para outra versão. Uma cópia do contratado do aditivo, obtida anteriormente pelo NeoFeed, mostra a assinatura de Thiago da Costa Silva, diretor de integração e finanças, e de Luciana Freire Barca Nascimento, diretora adjunta, cuja função é auxiliar “o diretor-presidente em suas atribuições”.
Ambos são ligados ao controlador e CEO Tércio Borlenghi Junior. Já a assinatura de Arruda não consta no documento, mas fontes dizem que ele tinha conhecimento do acordo.
No inquérito, porém, a empresa contesta o argumento de que a diretoria tinha ciência do contrato de aditivo por conta das duas assinaturas. Fontes ouvidas pelo NeoFeed informaram que a Ambipar está argumentando que as assinaturas digitais dos diretores foram inseridas através de um sistema automatizado de validação de documentos, que presume que todas as etapas de aprovação foram cumpridas. No entanto, não foi o caso.
A empresa também diz que identificou manipulações em documentos e informações relacionados ao aditivo. Segundo seus argumentos, os novos termos alteraram profundamente a natureza da proteção originalmente contratada, expondo a empresa a riscos financeiros elevados, enquanto o CFO argumentava que a Ambipar mantinha uma política financeira conservadora e protegida por instrumentos tradicionais de hedge.
Procurado pelo NeoFeed, David Rechulski, coordenador da defesa técnica de Arruda, diz que “se é verdade que fizeram [Ambipar] mais esse movimento errático”, em referência ao pedido de inquérito, “fica claro estarmos diante de uma provável situação típica de denunciação caluniosa”.
“A propósito, para que não pairem dúvidas desde logo, há até mensagens do controlador, CEO e membro do Conselho de Administração, Sr. Tércio Borlenghi Junior enviadas ao seu ex-CFO João Arruda comemorando a assinatura do aditivo com o Deutsche Bank que agora dizem ser algo desconhecido”, diz trecho da nota enviada. “Narrativas falaciosas não resistirão às evidências.” (confira a íntegra da nota abaixo).
Entenda o caso da Ambipar
O pedido de inquérito policial e os argumentos da Ambipar é mais um capítulo na guerra de narrativas que vem sendo travada sobre quem é o responsável pelo aditivo, que resultou na “situação calamitosa”, nas palavras da empresa, capaz de levar ao vencimento antecipado de dívidas de quase R$ 11 bilhões.
Arruda – que foi CFO da Ambipar por quase um ano, renunciando ao cargo no fim de setembro, menos de uma semana antes da companhia entrar com o pedido de tutela cautelar – se reuniu na semana passada com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para apresentar sua versão dos fatos.
No encontro, segundo apurou o NeoFeed, Arruda negou ter participado das negociações. Ele também afirmou que vinha sendo deixado de lado de decisões e conversas com o mercado, começando a demonstrar “desconforto” com a empresa desde que veio à tona a existência do polêmico FIDC, onde estaria concentrado boa parte do caixa da Ambipar.
Uma fonte ouvida pela reportagem destaca que o aditivo não é irregular. O estatuto da Ambipar estabelece que o board só precisa aprovar empréstimos e obrigações acima de R$ 500 milhões – o empréstimo com o Deutsche soma US$ 35 milhões (R$ 187,2 milhões).
Além disso, o valor exigido pelo Deutsche Bank na última chamada de margem, de R$ 60 milhões, é pequeno diante do risco de vencimento antecipado das dívidas e dos R$ 4,7 bilhões que teria em caixa, conforme informado no balanço do segundo trimestre.
A Ambipar informou que não iria comentar.
Enquanto acusa seu ex-CFO, a Ambipar vai buscando proteger seu patrimônio e manter os efeitos da tutela. O desembargador Mauro Pereira Martins, da 21ª Câmara de Direito Privado do TJ-RJ, indeferiu pedido do Ministério Público (MPRJ) para suspender a tutela, após os promotores questionarem o processo e manteve a medida cautelar que protege os ativos da Ambipar e de Borlenghi Junior.
As ações da Ambipar fecharam o dia com alta de 1,85%, a R$ 0,55. No ano, os papéis acumulam queda de 95,4%, levando o valor de mercado a R$ 921,7 milhões.
Nota de David Rechulski, coordenador da defesa técnica de Arruda:
Se é verdade que fizeram mais esse movimento errático – como vários outros anteriores, a exemplo de atribuir ao ex-CFO: 1) a assinatura de um termo de cessão do Bank of America ao Deutsche Bank que, na verdade, foi firmado pelo próprio filho do controlador e diretor estatutário da Ambipar; 2) a assinatura do aditivo com o DB que eles próprios juntaram na cautelar e que se vê ter sido assinado por seus diretores estatutários Thiago Silva e Luciana Barca; ou 3) repentinamente mudar a sede da empresa de São Paulo para um coworking no Rio de Janeiro às vésperas da cautelar –, fica claro estarmos diante de uma provável situação típica de denunciação caluniosa.
A propósito, para que não pairem dúvidas desde logo, há até mensagens do controlador, CEO e membro do Conselho de Administração, Sr. Tércio Borlenghi Júnior enviadas ao seu ex-CFO João Arruda comemorando a assinatura do aditivo com o Deutsche Bank que agora dizem ser algo desconhecido.
Destaque-se ainda que, segundo o artigo 21, alínea “f”, do Estatuto da Ambipar, documento devidamente registrado nos órgãos oficiais de controles, que cumpre exatamente ao CEO levar o que de direito para ser pautado e votado no Conselho de Administração. Enfim, narrativas falaciosas não resistirão às evidências
Fonte ==> NEOFEED